Por Adalvo Nunes Dourado
Havíamos subido a serra e estávamos dirigindo uma das temporadas em Araras, Petrópolis, quando uma visita inesperada chega ao nosso acampamento. Era o secretário da federação brasileira das ACMs Mr. Rudolf P Wiens.
Mais inesperado, no entanto, era o motivo que havia determinado a ida do nobre colega ao nosso local de trabalho e de lazer. Simplesmente foi me transmitir o convite que o COMITÊ INTERNACIONAL DAS ACMs, me fazia para participar, durante uma semana, em Nova York, da reunião preparatória da II Conferência da juventude Americana.
Confesso que por esta nem eu esperava, mas o certo é que uma semana depois já embarcava de volta aos STATES, onde já havia estado, e durante 6 meses, em 1959. Somente depois que lá cheguei pude entender a razão maior da minha presença. É que o comitê estava propondo que a dita Conferência fosse realizada no Brasil, mais precisamente, no Rio de Janeiro, e consequentemente o Garotão aqui atuaria como elemento de ligação e como hospedeiro.
Depois de quatro dias de reuniões presididas pelo Prof. Hector Casselli, tudo ficou resolvido, e exatamente como havia sido programado. Conferência no Rio e o Garotão como hospedeiro. Sinceramente, quando embarquei de volta, senti um peso tão grande sobre meus ombros, e a sensação de estar conduzindo uma carga bem maior do que a do próprio avião.
Objetivando relaxar um pouco fiz opção por um STEPOVER de dois dias na cidade do México onde, entre outras vantagens estive com essa extraordinária figura humana que foi HUGO GRASSI, ex-secretário geral da confederação Sul-Americana das ACMs, e com os caros colegas CASTRO JUAREZ E FREDE, com os quais havia convivido, fraternalmente, em Montevidéu. No aspecto cultural a visita também valeu muito pois estive no grandioso Museu da cidade do México.
Mas o Rio me chamava, agora com tarefas dobradas. Dobradas não triplicadas, pois além dos meus deveres como diretor do Acampamento e como hospedeiro da II CONFERÊNCIA INTERAMERICANA DE JOVENS, que se realizou 3 meses depois, coincidia com a grave problemática da juventude Brasileira na sua luta pela Redemocratização. É que meu caro mano, LOURINHO, mais conhecido como O BAHIANINHO, era um dos principais líderes do movimento que vivia então sua fase crucial, promoveram uma marcha de protestos e reivindicações, que ficou conhecida com o nome da MARCHA DOS 100 MIL, quando o meu estimado irmão – e mais três líderes foram presos…
Foi vivenciando problemática tão grave que aceitei a honrosa, porém muito difícil missão de colaborar, na medida de minhas possibilidades, para a realização de tão importante evento.
De pronto consegui, mediante acordo com a direção, reservar o COLÉGIO BATISTA DA TIJUCA para sede da Conferência. Providências correlatas, tais como hospedagem, divulgação, transportes internos, etc. Foram igualmente providenciados e na medida do possível, resolvidos. Houve falhas sim. Mas dentro do contexto, foi feito o melhor e os frutos surgiram. No encerramento, por intermédio da ACM do RIO, no auditório da Tv continental, foi outorgado um diploma especial a Roberto Carlos, que vivia o auge de sua brilhante trajetória como cantor.
Enquanto isto o meu caro mano Lourinho, que com a prestimosa e muito eficiente ajuda do penalista emérito Dr. Heleno Fragoso, e do estimado parente DR. RUBEM DOURADO, conseguimos relaxar a prisão prévia, para responder ao processo em liberdade, juntamente com dois dos seus companheiros, caíram na clandestinidade.
Paradoxalmente, enquanto a juventude da América se dirigia para o RIO, a liderança da juventude carioca era compelida a fugir da cidade… Nem eu mesmo sabia para onde havia se mandado o Louro más era em minha casa que ele era procurado. Convenhamos, não foi nada fácil.
A vida e a luta de Lourinho foi toda uma epopeia que não foi resumida num simples capítulo. Mereceu um livro que inclusive foi, com muito carinho, escrito pelo próprio mano e cuja publicação vem fazendo bastante sucesso.
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