Por: João Correia de Souza *
Meu tio José Correia da Silva ganhou fama de somítico porque pagava barato os serviços das roças de algodão, milho e oiticica. Não é que fosse um camumbembe, mas ganhara fama como tal.
Nos trabalhos do eito, nas capinas de milho, trabalhava ao lado dos serviçais, dos subalternos como se fosse um deles. Este habito vinha dos tempos do seu pai.
Certo dia, trabalhando no leirão com alguns trabalhadores enfileirados de marcha à ré, precipitaram-se no rio Piancó e, se não soubessem nadar teriam morrido afogados, tal era a pressa. A família vivia na cidade.
Ele, não obstante ter boa pecúnia não desprezava o trabalho do campo. Suas lavouras, seu rebanho, suas terras férteis. Cuidava daquilo com o mesmo amor que o seu velho pai Juvenal dedicava àquele arrimo que abrigara a família inteira.
A sua parte fora bem mais ampliada que as dos demais herdeiros – comprara alguns quinhões. A minha mãe coube duas pequeninas glebas – uma na parte do rio, outra no riacho onde havia uma bem situada raiz de algodão.
O tio Júlio morava no Alto da Raposa, numa área contígua que também pertencera ao espolio do meu avô Juvenal quando o riacho enchia vinha água no terreiro das casas, mas o acesso à casa grande ficava livre posto que fosse num elevado. No silencia ouviam-se os gritos do papagaio da dona Veneranda – Louro, dá cá o pé. Quando não, – Veneranda, tem gente! Também eram ouvidas as conversas do povo do José Nicolau, os gritos estridentes de dona Vicência Louceira mandando as filhas trazer o material para dentro para não tomar chuva.
A tarde estava a avançada e tinha que prender o gado que estava esparramado no pasto até a roça nova das juremas. Gritava impetuosamente: Careta, agalhona, gazela, e todo o gado vinha enfileirado como se fosse gente.
Quase sempre o mulato Camilo era quem rebanhava o gado para o curral, mas agora andava intrigado com o patrão por conta de uma conversa que circulava de que a dona Nilza, mulher de Camilo morrera envenenada porque tinha um romance com o meu tio. Mas ficou ao anonimato. Não houve inquérito para apuração dos fatos e o caso foi encerrado à revelia da lei.
* João Correia de Sousa é membro da ALI, em memória
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Pedro Bezerra de Souza Filho diz
Grande abraço aos Acadêmicos de Irecê: homens e mulheres dedicados à boa leitura, aos livros, e, à Cultura como um todo.
ALIIrece diz
Obrigado, confrade, por participar.